Dessas dezenas de pessoas que me amavam, eu posso falar o nome de dez ou quinze que ainda mantém o mesmo contato, que realmente fazem a diferença, que fazem com que eu acredite naquelas três palavras tão banalizadas. Se todo mundo que dissesse que me ama realmente me amasse, eu provavelmente já estaria no comando do país, e não numa escola tradicional de uma cidade minúscula estudando fórmulas ridiculamente complicadas.
Acho que entendo esse pessoal, sabe. Já passei por essa fase. Afinal, em um mundo tão necessitado de sentimento, não seria mais fácil pegar um desconhecido e transformá-lo no amor da minha vida? Seria. E por isso que não o faço: é muito melhor conquistar o afeto de alguém que realmente merece a sua consideração do que sair gritando pelos 4 cantos do mundo (ou pelo fotolog, orkut, twitter, formspring...) que o fulano de tal é seu BEST e que você o ama mais que tudo quando você nem vai se lembrar dele daqui a dois anos. A internet aproxima as pessoas, mas às vezes, essa aproximação é tão verdadeira e duradoura quanto uma bolsa Prada de camelô. Amor que é amor não acaba; pode se modificar, se transformar num relacionamento mais frio, numa amizade mais distante, mas continua lá, guardado e pronto para ser usado - não pronto para usar alguém. Amor não se apaga como se apaga um comentário em um link qualquer do cyberespaço.
Falando nisso, abri as guias do meu navegador agora. Em uma janela, estou vendo meu segundo fotolog, de 2007, cheio de comentários adoráveis de terceiranistas que hoje torcem o nariz ao me ver passando no corredor. Não, eu não fiz nada para elas. Não, elas não fizeram nada para mim. Excluí a conta, apenas isso. E nós, que achávamos que arrobas e abreviações eram o bastante para amar alguém nos "distanciamos" mesmo estudando a poucos metros de distância. Quando fiz outro compartilhador de fotos, os comentários das mesmas meninas que me amavam pra sempre, minhas supostas bffs, passaram a ser "foto linda, passa no meu?".
Na outra guia, o orkut está aberto, e a prima de um colega meu que diz gostar muito das minhas fotos assina um depoimento com "Te amo muito, Bea linda!". Ok, sou humana, adoro que me elogiem... Mas o máximo de contato além-internet que eu tive com essa menina foi um "Oi, você tem visto o fulano?" totalmente desanimado e sem graça. Eu poderia ter dado mil abraços e feito declarações de amor afirmando o quanto "você é especial mesmo com pouco tempo
Sou a favor do "adoro seu jeito de sorrir", do "você é muito engraçado", do "eu adoro sair com você"... Usar um "eu te amo" no lugar dessas verdades faz tudo parecer mais simples e ao mesmo tempo mais completo, mas descobrir que o "eu te amo" na verdade é um "eu queria te pegar"?
Ah, me chame de antiquada, mas eu prefiro um amor real que acaba comigo ao amor cor-de-rosa que simplesmente não existe. Sim, aquele sentimento monstruoso que me faz reclamar aqui o tempo todo é um dos dois únicos tipos do amor que eu costumo considerar pra levar pro resto da vida. O segundo, pra ser mais clara.
Porque em primeiro lugar, é claro, vem o meu amor por sorvete de flocos.